A Creatina e o seu Cérebro
Por Via Internet • 03 de novembro de 2025
Por Via Internet • 03 de novembro de 2025
O Neurologista aqui vai direto ao ponto: a Creatina, aquele pó branco que todo mundo na academia toma pro músculo, tá se mostrando uma das coisas mais promissoras que eu vi nos últimos anos para o cérebro. Não é cura milagrosa, mas os estudos tão mostrando que ela pode, sim, melhorar a energia cerebral, dar um gás na memória e até ajudar em casos de fadiga mental. Para quem tem TDAH ou sintomas depressivos, ela tá sendo estudada como um adjuvante, um “ajudante” do tratamento principal. E para demência? Calma, não é prevenção, mas a lógica de dar mais energia pra célula que tá sofrendo faz muito sentido. É uma revolução silenciosa saindo da academia e entrando no consultório.
Isso é inacreditável sabia? quando eu penso que já vi de tudo nesses 25 anos de Neurologista, me aparece outra dessa.
Pois é, meu caro… quando eu acho que já vi de tudo, o mundo da neurociência dá um jeito de me surpreender. Faz uns 25 anos que eu tô nesse “trampo”… ops, digo, nesse trabalho… de tentar entender o que acontece dentro da cabeça das pessoas. E nesse tempo todo, eu vi muita coisa. Vi remédio que prometia ser a oitava maravilha do mundo e não dava em nada, e vi substâncias quietinhas, que ninguém dava nada por elas, fazerem uma revolução.
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A Creatina e o seu Cérebro
E é exatamente o caso da Creatina.
Quem é mais antigo como eu lembra que lá por 1990, começo dos anos 2000, a creatina era coisa de “marombeiro”. Era o suplemento do cara que queria ficar forte, levantar mais peso. A gente no consultório de neurologista nem olhava pra isso. Era coisa de músculo, e o cérebro, bom, o cérebro era outra história. Pelo menos era o que a gente pensava.
Mas o que tá acontecendo agora é que essa barreira entre músculo e cérebro tá caindo. E rápido.
Vamos ao que interessa. O que o pessoal tá falando é o seguinte: a creatina não é um suplemento estranho, um químico inventado ontem. O nosso próprio corpo fabrica isso. O fígado, os rins… eles produzem. E a gente come creatina todo dia, principalmente na carne vermelha e no peixe.
Pensa assim: a célula do seu corpo usa uma “moedinha” de energia chamada ATP. Quando você faz um esforço (levantar um peso ou tentar lembrar o nome de alguém), você gasta essa moeda. A célula fica “pobre”. A creatina, ou melhor, a fosfocreatina, é o “PIX” da célula. Ela doa um fosfato e transforma o ATP gasto (ADP) em ATP novo, rapidinho.
No músculo, isso é óbvio: mais energia rápida = mais força, mais repetições.
Agora, a pergunta que demorou 20 anos pra gente se fazer: qual é o órgão que mais gasta energia no corpo humano?
Pois é. O cérebro.
O seu cérebro é só 2% do seu peso, mas ele queima uns 20% de toda a energia que você consome no dia. É uma usina que nunca desliga. E adivinha? Ele também usa ATP. E ele também armazena creatina pra usar como energia rápida.
O que os estudos recentes (e quando digo recentes, falo de uma avalanche de pesquisas nos últimos 5 a 10 anos) estão mostrando é que suplementar com creatina – tomar aquele pozinho – aumenta os estoques de fosfocreatina dentro do cérebro.
E o que acontece quando o cérebro tem mais “bateria” disponível? Ele funciona melhor.
É aí que o bate-papo fica bom. Como Neurologista, eu não me importo se o paciente levanta 100kg no supino. Eu me importo se ele consegue lembrar da lista do supermercado, se ele consegue focar no trabalho, ou se ele tá sofrendo com a névoa mental da depressão.
E é aqui que a Creatina entra.
Essa é talvez a área mais clara. Sabe aquele dia que você dormiu mal, tá exausto, e o cérebro simplesmente não “liga”? Os estudos são muito consistentes nisso. Quando você tá privado de sono ou fazendo uma tarefa mental muito difícil (tipo estudar pra uma prova ou fechar um balanço), seus níveis de fosfocreatina no cérebro caem. Você fica sem bateria.
A suplementação com Creatina funciona como um “power bank”. Ela segura os níveis de energia cerebral por mais tempo. O resultado: a pessoa suplementada consegue manter o desempenho cognitivo (raciocínio, tempo de reação) por mais tempo, mesmo cansada. Não cura o sono, mas diminui o “prejuízo” mental.
Aqui os resultados são interessantes. Em jovens saudáveis que comem carne e dormem bem, o efeito na memória é pequeno, as vezes quase nulo. Por quê? Porque o cérebro deles já tá com o tanque cheio.
Mas pega um grupo específico: vegetarianos e veganos. Como eles não comem carne, os níveis naturais de creatina no corpo (e no cérebro) deles são mais baixos. Nesses pacientes, a suplementação mostra um efeito claro: melhora na memória de curto prazo e na capacidade de raciocínio.
O mesmo vale para idosos. Com a idade, o metabolismo de energia cerebral cai. Suplementar creatina em idosos tem mostrado resultados muito promissores na melhora da memória e da cognição.
Vamos com calma aqui. Isso é muito importante: Creatina NÃO é tratamento de primeira linha para TDAH ou Depressão.
O que estamos vendo é que ela é uma excelente adjuvante. No TDAH, o cérebro tem uma dificuldade em regular a dopamina e gasta energia de forma diferente. Alguns estudos pequenos estão sugerindo que a creatina pode ajudar a dar aquele “combustível” extra que o cérebro com TDAH precisa pra manter o foco. Mas ainda é cedo.
Na depressão, a história é fascinante. Uma das teorias da depressão é a da “crise energética” cerebral. O cérebrodeprimido está, literalmente, com menos energia, menos ATP. Vários estudos, principalmente com mulheres (que parecem responder melhor nesse cenário), mostraram que adicionar creatina ao antidepressivo (o remédio normal) acelerou a melhora dos sintomas. É como se a creatina desse a energia que o cérebro precisava pra “consertar” o que o remédio estava tentando arrumar.
Aqui é onde o meu lado Neurologista fica mais cauteloso, mas também esperançoso.
Em doenças neurodegenerativas, como Alzheimer ou Parkinson, o que acontece é que os neurônios estão morrendo. E eles morrem, em grande parte, por estresse e falha energética. A mitocôndria, a “usina” da célula, para de funcionar direito.
A lógica é: se eu der mais creatina (combustível) pra essa célula que tá sofrendo, será que eu a protejo?
Os estudos em animais são ótimos. Em humanos, os resultados para demência ainda são mistos. Não parece reverter a demência, infelizmente. Mas há uma esperança de que ela possa atrasar a progressão. Dando mais energia cerebral, o neurônio talvez “aguente” o tranco da doença por mais tempo. Mas isso, meu caro, ainda tá no campo da pesquisa. Não é pra sair tomando creatina achando que vai curar Alzheimer.
Eu tô aqui no meu consultório vendo essa história se desenrolar. O que era coisa de academia, hoje eu já penso em discutir com um paciente idoso com queixa de memória, ou com alguém com fadiga crônica.
Claro, tem que tomar direito. A dose padrão pro cérebro parece ser a mesma do músculo, uns 3 a 5 gramas por dia. Todos os dias. Não adianta tomar só no dia da prova, o cérebro demora semanas pra “encher” o tanque com o suplemento.
É uma revolução silenciosa. E barata. E segura (sim, é um dos suplementos mais seguros que existem, desde que seu rim esteja bom, claro).
Eu, como Neurologista de 25 anos de estrada, tô de olho vivo. Porque às vezes, a resposta não tá na pílula mais cara da farmácia, mas naquele pote que tá esquecido no armário da cozinha.
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